quarta-feira, 26 de novembro de 2008
ALERTA AO FUTURO REI: CUIDADO COM OS BAJULADORES
Meninos eu vi... Vi que o Reino das Cobras (o significado da palavra Buíque na língua indígena é Ninho de Cobras. Origina! Não acham?) está prestes a coroar um novo Rei. Um Rei jovem, simpático e que promete trazer fartura e prosperidade para o seu reino. Mas, para que os planos do futuro Rei dêem certo e o Reino das Cobras tenha a prosperidade tão sonhada pelos súditos da realeza, sinto-me na obrigação de alertar Vossa Alteza dos perigos, tentações e armadilhas que estão sujeitos àqueles que usam a coroa.
Há Reis que só vêem os súditos com bons olhos quando precisam da sua ajuda para ganhara mais uma batalha e permanecer no Trono (No nosso tempo, quando o prefeito precisa do voto do povo para ser reeleito). A esses Reis, o bajulador (ou bobo da corte) é de grande importância, pois precisam deles para prejudicar, perseguir, punir e excluir os súditos que não abaixam a cabeça e se rebelam contra a tirania do Rei. Como agrado, o bajulador recebe gratificações, promoções e prestígio.
A primeira coisa que o Rei tem que aprender a lidar é com o que há de mais cobiçado pela espécie humana: o poder (tem até um dito popular que diz assim: Quer conhecer um homem? Dê poder ale). Com o poder nas mãos, o indivíduo que outrora era tido como um “Zé Ninguém”, “zero a esquerda”, ou coisa do gênero, logo conquista status, prestígio social, grandes oportunidades de negócio, satisfação da vaidade pessoal, sentimento de importância pessoal, condição de celebridade e a enorme capacidade de fazer valer suas vontades sobre tudo e todos. A segunda coisa que o Rei tem que aprender a lidar, é também a mais importante e difícil num reinado: os bajuladores. Assim como a luz atrai os mosquitos no verão, a conquista da Coroa Real atrai os bajuladores para o círculo de convivência da realeza.
Para Nicolau Maquiavel, o italiano que escreveu o livro “O Príncipe”, considerado a bíblia da arte de governar, o bajulador é descrito como uma “peste” difícil de se livrar: "Refiro-me aos aduladores, tão abundantes nas cortes; porque tanto compraz aos homens serem elogiados, e de tal forma se enganam, que dificilmente se defendem desta peste". - O Príncipe, Cap. XXIII.
O fato é que, como diz Maquiavel, "compraz aos homens serem elogiados". Como tal, não há como ignorar que são os poderosos, as autoridades, que geram os aduladores. Fossem eles mais resistentes e indiferentes às adulações, elas não seriam praticadas com tanta frequência. São porque, por certo, produzem os resultados desejados. Esta é uma das grandes lições de Maquiavel: advertir o Príncipe (governante/autoridade) para os riscos de ceder à tentação de cultivar a adulação em torno de sua pessoa. Ela é um daqueles doces venenos que o governante gosta de ingerir.
O Cardeal Mazarin, sucessor de Richelieu na Corte Francesa, ao dar conselhos aos aduladores, pode servir de contraponto ao texto de Maquiavel. Pois Maquiavel aconselha o príncipe, e Mazarin os aduladores: "Fala sempre com um ar de sinceridade, faz crer que cada frase saída de tua boca vem directamente do coração, e que tua única preocupação é o bem comum. Afirma, além disso, que nada te é mais odioso que a bajulação.(...) ... exercita-te em simular cada um dos sentimentos que pode ser útil manifestares, até estares como impregnado deles. Não mostres a ninguém teus sentimentos reais. Disfarça teu coração como se disfarça um rosto. Que as palavras que pronuncias, as próprias inflexões de tua voz participem do mesmo disfarce. Jamais esqueças que a maior parte das emoções se lêem no rosto". - Breviário dos Políticos- Cardeal Mazarin.
Para Maquiavel, O único modo de evitar as bajulações consiste em que as pessoas entendam que não o ofendem por dizer-lhe a verdade. Mas o autor do livro “O príncipe” dá um alerta: "Entretanto, quando todos podem dizer-te a verdade, perderão o respeito pelo Príncipe. O Príncipe prudente deve escolher homens sábios, que dele tenham a permissão de dizer a verdade, mas somente a respeito daquilo que lhes é perguntado. (...) O Príncipe deve aconselhar-se sempre, mas somente quando deseje e não quando os outros queiram. Convém que se lhes tire o hábito de dar conselhos que não foram solicitados. Mas, ao mesmo tempo, pedir conselhos quando necessite, sem impor restrições, e ouvir com muita paciência e atenção as respostas que seus conselheiros dão às suas perguntas, para que a perturbação que o respeito impõe não impeça nenhum deles de expressar suas opiniões".
Aqui no nosso reino, essa “praga” se apresenta evoluída, pois agora, não se contentam só em bajular o Rei, querem mandar e desmandar no reino, acreditando que Menino Rei só governará para os súditos que se curvarem as suas vontades, enchendo a boca com frases do tipo: se nós quisermos; nós vamos ver; nós iremos fazer e se nós deixar-mos. É bom o futuro Rei ficar sabendo que, assim como ontem e hoje, os bajuladores proliferam, frutificam e mudam de discurso mal “farejam” mudanças de poderes e de “poderosos”. No Reino das Cobras, detectamos vários bajuladores que em outros tempos exerceram seus dons em antigos reinados e abandonaram o Rei. Não por discordarem do seu modo de governar, mas porque os antigos Reis não souberam prestigiar e gratificar o bajulador com mimos e o status que eles imaginam merecer.
Para o Menino Rei, que será coroado em janeiro próximo, deixo um conselho: “Se pretende realizar um reinado que fique na história do nosso Reino das Cobras, cuidado com os bajuladores, pois, com os elogios eles embriagam e entorpecem o espírito crítico”. Além disso, a equação - de 15 elogios, 14 são falsos – poderá ser uma valiosa lembrança. Ela pode ser exagerada, mas está perto da realidade.
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